31 março, 2011

Imagens raras são grande trunfo de documentário sobre Mamonas Assassinas

Assinando contrato com a EMI

"Os Beatles do besteirol" gritava o título de uma antiga revista Manchete. Difícil encontrar definição melhor do que foi o rolo compressor dos Mamonas Assassinas nos anos 90. No seu auge, chegaram a fazer quase 200 shows em seis meses. Venderam mais de tres milhões de álbuns.
Durante alguns meses de 95 e 96, parece que tudo ficou ofuscado pelo sucesso desses cinco palhaços da suburbana Guarulhos. Era uma máquina de produzir baboseira em forma de hits. De crianças pequenas a adultos bem-humorados, seus fãs os acompanhavam aos milhões, em estado de histeria.
Dirigido pelo paulista Claudio Kahns, Mamonas Pra Sempre chega para contar essa que foi uma das histórias de sucesso mais rápidas e intensas do pop brasileiro. O filme tem estreia nacional em 27 de maio.
IMAGENS RARAS
O grande trunfo de Mamonas... é reunir uma quantidade impressionante de imagens raras. São preciosidades como os garotos adolescentes no conjunto habitacional do bairro Cecap, seus tempos como Utopia (a primeira e "séria" encarnação dos Mamonas) e o carismático vocalista Dinho (Alecsander Alves Leite) com uma franja típica dos anos 80.
Também estão aqui muitos dos momentos essenciais da história do grupo: a apresentação para o figurão da gravadora que os contratou; a viagem para Los Angeles para gravar o primeiro álbum; e o triunfal show de retorno a Guarulhos, no Ginásio Pascoal Thomeu.
O filme traz entrevistas com familiares e todas as figuras importantes na carreira do grupo, com bom destaque para o produtor Rick Bonadio e o empresário Samy Elia. O dia a dia do grupo é bem mostrado, mas não se revelam muitos detalhes sobre as personalidades de cada um. Isso fica para cada um deduzir a partir das imagens (que acabam, naturalmente, mostrando muito mais Dinho) e das declarações de Bonadio, que fala um pouco mais sobre cada um dos integrantes.
SEM TESES
Com edição ágil, Mamonas Para Sempre é divertido e despretensioso como a banda. Não procura construir teses ou explicar contextos para seu sucesso descomunal.
Até poderia. Por exemplo, o estouro da banda correu paralelo ao Plano Real, quando surgiram milhões de novos consumidores de CDs e aparelhos de som. Os Mamonas foram um dos primeiros (o primeiro?) casos de sucesso sustentados por essa nova fatia consumidora, em um país cheio de otimismo. Foram símbolos desse tempo.
Outro lado interessante do fenômeno é que os Mamonas conquistaram um camarote na festa da música brasileira, sem serem "inteligentes" (apesar de serem), sem prestarem reverência a tradições culturais (seu som era um mix frenético de referências) ou virem de qualquer panela do eixo Rio-São Paulo-Bahia. Eram considerados repugnantes pela "inteligência" artística na época. Olhando de hoje, os Mamonas até tinham seu quê de punk, de não dar satisfação para o "sistema" cultural e debochar de tudo.
A morte dos integrantes do grupo num desastre de avião, no pico do sucesso, ocupa só os minutos finais do filme. Parece pouco, considerando o impacto que o acontecimento teve no país (o enterro foi transmitido em tempo real pela TV na época). Mas o diretor decidiu assim por achar que a morte já havia sido explorada demais pela mídia na época (que tem seu "sensacionalismo" duramente criticado pelo ex-empresário Elia no filme).
E, pensando bem, bater muito na tecla da tristeza seria algo bem pouco Mamonas

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